O professor universitário Jésus Gomes notou uma mudança no comportamento do filho de 13 anos. O adolescente, que costuma ser falante e vivia mandando mensagens carinhosas para o pai, estava quieto. A explicação veio depois de uma conversa: o menino havia sido vítima de racismo. “Coloquei a mão no joelho dele e disse: filho você sabe que comigo pode abrir o jogo e ele me olhou e falou que recebeu uma mensagem com alguma coisa assim ‘achei que você era meu amigo, mas já vi que preto não presta’”, relatou. No caso do filho do Jésus, a ofensa foi num grupo de WhatsApp de colegas da escola. Dois meses depois, a direção do colégio procurou o jovem, que retomou a confiança de antes. A especialista em Injúria Racial da FGV, Marta Machado, ressalta que o crime, na verdade, é apenas uma parte do problema: “O racismo, o crime, a punição são a ponta do iceberg de um problema estrutural. Quando falamos de escolas, nem se cogita em trazer o direito penal para resolver esse conflito.”
O episódio que aconteceu com o filho do Jésus chama atenção para a necessidade da educação antirracista para alunos de todas as idades. Por lei, as escolas brasileiras devem incluir no currículo oficial da educação básica a história e cultura afro-brasileira e indígena. No entanto, o ensino antirracista deve ir além. O professor de filosofia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Renato Noguera, afirma que é as escolas devem buscar ferramentas que contribuam com comportamentos afirmativos: “No campo da educação, com a correção de injustiças teóricas e no âmbito da produção e circulação de conhecimento.É importante que o projeto político-pedagógico retrate e encare de frente esse desafio de promoção de uma sociedade que entenda que com racismo, não há democracia.”
Em São Paulo, o colégio Albert Sabin começou a trabalhar a educação antirracista antes da obrigatoriedade, apresentando conteúdos sobre a cultura africana, até o estudo sociológico do racismo. A assessora pedagógica da escola, Denise Masson, explica que o objetivo é formar pessoas que saibam ouvir: “Nós acreditamos que só é possível combater qualquer tipo de preconceito, inclusive o racial, por meio do conhecimento do outro. Tudo isso constrói uma consciência crítica a respeito do que é essa relação com o racismo e de que maneira a escola pode trabalhar para diminuir esse impacto.” O racismo é crime na Constituição Brasileira e pode levar a pena de 1 mês a 3 anos de reclusão, multa e indenização.
*Com informações da repórter Nanny Cox